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Marcas chinesas ameaçam “invadir” setor automóvel europeu

Mais baratos, com mais funcionalidades e melhor autonomia. São estas algumas das características que distinguem os carros elétricos chineses. A aposta está a ser feita por um conjunto de empresas chinesas após as marcas europeias não conseguirem oferecer um produto equivalente fora do segmento premium

O alerta já foi lançado por várias entidades europeias do setor, mas a ameaça não é propriamente nova. O avanço da Ásia no setor automóvel começou com uma investida japonesa nos 70, seguida de um “ataque” vindo da Coreia do Sul na década seguinte. Do lado chinês, já desde inícios de 2000 que o país marca presença em feiras automóvel na Europa.

Da última que vez que a China tentou tomar de assalto o mercado automóvel europeu, uma série de reprovações em testes de segurança desferiram um golpe no sonho chinês. Agora, a China já dispõe de algumas marcas estabelecidas em solo europeu, sendo que o país nunca esteve tão perto de cimentar a sua relevância enquanto gigante do setor automóvel.

Fabricantes tradicionais têm sido afastadas da China

Com o fim da política Covid zero na China, é esperado que uma das maiores economias a nível mundial volte a abrir em pleno as suas portas ao comércio. Isto está a levar as fabricantes automóveis tradicionais (entre as quais a Ford, Toyota, Volkswagen e outras) a prever um crescimento nas suas vendas naquele país. No entanto, a realidade é que as fabricantes tradicionais têm sido gradualmente expulsas do mercado chinês nos últimos anos.

As fabricantes automóveis tradicionais têm visto a sua presença na China passar dos 61% em 2020 para 41% no último trimestre de 2022. No entanto, quando as fabricantes dizem que esperam um crescimento nas vendas na China, elas não estão a mentir, já que é esperada uma ligeira recuperação no primeiro semestre de 2023, à medida que o antigo stock automóvel é escoado. Ainda assim, esta recuperação não deverá ser impactante, já que os dados da Bloomberg indicam que a quota de mercado destas fabricantes deverá manter-se abaixo dos 50%.

Por outro lado, o avanço dos elétricos está a ser o motor desta mudança, já que o mercado chinês está a adotar este tipo de veículos a grande velocidade, mais rápido que o esperado inicialmente pelas fabricantes tradicionais. Atualmente, as marcas locais chinesas estão, inclusive, a dominar o seu mercado interno. Qual a razão para isto? Até 2018, as fabricantes automóveis internacionais que se instalassem na China, tinham de produzir veículos com parceiros locais numa joint venture. O objetivo desta medida foi acelerar a transferência de tecnologia e know-how, no que toca à produção, do ocidente para o oriente.

Porque é que isto importa?

Lembra-se quando há pouco mencionámos que os veículos chineses falharam testes de segurança em 2007? Através das parcerias em solo chinês, a indústria automóvel naquele país melhorou consideravelmente desde então pelo que, atualmente, os seus veículos já conseguem cumprir ou até exceder os standards impostos pelo mercado europeu. Graças a isto, o mercado interno chinês tem borbulhado com um conjunto de marcas domésticas que têm apostado nos carros elétricos, especialmente no que toca aos modelos mais acessíveis.

Para Yale Zhang, diretor da consultora sediada em Shanghai, Autoforesight, as fabricantes automóveis tradicionais quase não têm competitividade no que toca aos seus veículos elétricos, cita a Bloomberg. Segundo o responsável, os veículos destas fabricantes contam com designs desatualizados, falta de autonomia, falta de funcionalidades como a condução autónoma, além de serem caros, acrescenta.

Neste sentido, as marcas chinesas estão a tirar partido de uma falha na oferta automóvel europeia, estando já a ter resultados tangíveis. Beneficiando de uma rede de abastecimento local robusta, a China tornou-se o segundo maior país exportador de veículos do mundo em 2022, ultrapassando a Alemanha com um total de 3,1 milhões unidades, segundo dados da Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis citados pelo Automotive News.

Por outro lado, a consultora PwC estima que até 800 mil carros chineses possam ser vendidos na Europa até 2025, na sua maioria elétricos. Se tal acontecer, a Europa passaria a tornar-se uma importadora de veículos, sendo que as marcas chinesas passariam a ter uma presença no mercado elétrico europeu entre os 3,8% e os 7,9%.

Fechar portas ao mercado chinês é uma solução?

A resposta rápida é não. Mesmo que as marcas chinesas tenham grande sucesso na Europa, segundo o vice-presidente da consultora automóvel Inovev, Jamel Taganza, é improvável serem aplicadas tarifas adicionais sob os produtos importados da China, já que as fabricantes alemãs estão dependentes deste mercado, cita a Forbes.

Ainda assim, o analista da JATO Dynamics, Felipe Munoz, defende que o impacto da China no setor automóvel europeu será sentido mais no longo prazo do que no curto, já que o analista considera que as marcas chinesas têm de melhorar a sua reputação. Isto representa um desafio para a China, tendo em conta as tensões políticas em torno de questões como Taiwan ou a Rússia.

O sucesso chinês será provavelmente sentido nos veículos a partir dos 15 mil euros, acrescenta Munoz, afetando principalmente modelos mais acessíveis de marcas como a Citroen, Ford, Peugeot, Volkswagen, Skoda e Seat. A alimentar esta previsão esteve, até ao momento, o fim dos motores de combustão na Europa, programado para 2035. Segundo Munoz, este plano iria penalizar, sobretudo, os pequenos veículos com motor de combustão.

No entanto, após a Alemanha colocar questões de última hora, foi aberta uma exceção para os motores de combustão que funcionem através de combustíveis neutros em carbono. Resta agora esperar para ver como acaba esta batalha comercial.

Fonte: CNN

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