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Disfarces, seguranças privados e dois aviões. A grande fuga do antigo patrão da Renault

Carlos Ghosn, um dos executivos mais carismáticos da indústria automóvel, protagonizou uma das mais surpreendentes fugas dos últimos tempos

É uma daquelas histórias que, muito provavelmente, dará um filme de Hollywood. Carlos Ghosn, antigo presidente-executivo do poderoso grupo Renault Nissan, protagonizou uma das mais elaboradas fugas dos últimos tempos. O executivo de 65 anos estava em prisão domiciliária no Japão a aguardar julgamento, acusado de fraude e desvio de dinheiro. Mas apesar de estar a ser constantemente monitorizado pelas autoridades nipónicas, conseguiu sair do território. Fez escala na Turquia, antes de chegar ao Líbano, país onde cresceu e dispõe de apoio das autoridades.

Nas últimas horas têm surgido mais detalhes sobre como Ghosn arquitetou o plano. O Financial Times considera que foi uma das maiores fugas de sempre. Já desde outubro que o estratagema estaria a ser preparado por vários operacionais de uma empresa de segurança privada a operar em diferentes países para possibilitarem a saída arrojada, segundo a Reuters. De acordo com o Financial Times, o plano teve o apoio do governo do Líbano, que já há bastante tempo defendia a libertação do gestor. A imprensa internacional aponta que a esposa de Ghosn acompanhou os preparativos do processo a partir do Líbano. Mas o antigo patrão da Nissan garantiu entretanto, segundo a Bloomberg, que nenhum familiar esteve envolvido.

Já a Turquia negou que tenha apoiado ou tido conhecimento do plano. E foram detidas sete pessoas no país, incluindo quatro pilotos por, alegadamente, terem ajudado a concretizar a fuga de Carlos Ghosn. Foram utilizados dois jatos privados: um, que fez a ligação entre Osaka e Istambul; e outra aeronave que assegurou a segunda fase da viagem até ao Líbano. Segundo a Bloomberg, fontes das autoridades turcas garantiram que o plano de voo do avião proveniente do Japão não previa uma aterragem em Istambul e que isso apenas aconteceu porque o piloto reportou problemas. No entanto, outras versões contrariam essa informação.

As autoridades turcas detiveram sete pessoas suspeitas de terem ajudado Ghosn a escapar do Japão para o Líbano.

Além de ter usado dois aviões, Ghosn terá recorrido a outros estratagemas para escapar às autoridades nipónicas. Uma televisão libanesa noticiou que os operacionais da empresa de segurança privada se disfarçaram de músicos, simularam um concerto na casa do gestor em Tóquio e que o extraíram do edifício, escondido numa das caixa de instrumentos musicais. A versão foi negada pela esposa de Ghosn, Carole. Mas não seria a primeira vez que o antigo patrão da Renault utilizaria o disfarce para se livrar de situações delicadas. No ano passado, mascarou-se de trabalhador da construção civil para tentar confundir os jornalistas quando saiu do estabelecimento prisional onde estava detido preventivamente.

Algumas fontes próximas de Carlos Ghosn, citadas pelo Financial Times, indicam que a empresa apenas foi contratada para apagar o seu rasto das forças policiais nipónicas. O gestor, que tem nacionalidades brasileira, francesa e libanesa (nasceu no Brasil, mas a família é do Líbano), tinha os passaportes apreendidos pelas autoridades. Mas especula-se que pudesse ter um documento de reserva ou um passaporte falso para conseguir sair do país.

Interpol emite alerta

A fuga de Ghosn causa um grande embaraço às autoridades nipónicas e aconteceu apenas uma semana depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão ter feito uma visita ao Líbano. Após uma detenção de mais de 100 dias, o gestor passou para prisão domiciliária na sua casa de Tóquio, tendo entregue uma caução de nove milhões de dólares. Os procuradores nipónicos contestaram essa alteração da medida de coação, argumentando com a existência de risco de fuga. O Japão já pediu à Interpol que emitisse um alerta vermelho sobre a fuga de Ghosn.

O aviso já chegou às autoridades libanesas, mas estas não são obrigadas a fazer a detenção. A escolha do país não terá sido por acaso. O Líbano não tem acordo de extradição com o Japão e Ghosn tem uma boa reputação no país onde passou a infância. Aliás, chegou mesmo a aparecer num selo dos correios do país. Além disso, a esposa estava no Líbano. Como parte dos termos da prisão domiciliária, estabelecidos há sete meses, Ghosn não podia ter contacto com Carole.

Não serei refém de um sistema judicial japonês manipulado.

CARLOS GHOSN

Após ter visto a data de início do seu julgamento ser sucessivamente adiada e de não poder contactar com a esposa, o antigo patrão da Nissan tomou a decisão de fugir. “Estou agora no Líbano e não serei refém de um sistema judicial japonês manipulado em que a culpa é presumida, a discriminação é excessiva e os direitos humanos básicos são negados em desprezo flagrante das obrigações legais do Japão”, acusou Ghosn no comunicado emitido na passada terça-feira. Assegura que “não fugi da justiça – escapei-me da injustiça e da perseguição política”. Acrescentou que pode “finalmente comunicar de forma livre com a imprensa”.

Carlos Ghosn foi detido em novembro de 2018, quando regressava a Tóquio vindo de Beirute. Foi acusado de ter ocultado metade da remuneração que efetivamente teve da empresa e de ter tapado perdas financeiras pessoais com dinheiro da Nissan. O gestor negou sempre as acusações.

Fonte: Exame

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