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Fábricas de componentes automóveis temem oito meses de recuperação

Indústria tem produção praticamente parada e tenta salvar 58 mil empregos. Sindicatos alertam para “pilhagem aos direitos”.

Bastaram dois dias para as fábricas de peças para carros em Portugal chocarem com o novo coronavírus. As encomendas desapareceram, a produção praticamente parou e salvar os 58 mil empregos neste setor tornou-se prioritário. A recuperação desta indústria deverá levar pelo menos oito meses porque as fábricas de automóveis apenas deverão retomar a produção em maio, dizem as empresas do setor. Os sindicatos, entretanto, alertam para a “pilhagem aos direitos” dos trabalhadores.

“Até meados da semana passada, os clientes estavam a fazer encomendas. Em dois dias, começaram a fechar fábricas em toda a Europa e deixámos de ter encomendas. 90% da produção caiu e grande parte das empresas está a trabalhar residualmente. Temos uma situação de paragem completa da atividade”, retrata ao Dinheiro Vivo José Couto, líder da AFIA, a associação que representa as empresas de componentes.

Esta indústria representa atualmente 16,3% das exportações de bens portuguesas. O envio de peças de carros para o estrangeiro valeu 9.749 mil milhões de euros no ano passado, mais 86% do que em 2010. Para este ano, a Covid-19 destruiu mesmo o pior cenário.

“O consumo vai cair mais de 70% na Europa. Depois de passarmos o pico do contágio, o arranque desta indústria vai ser muito lento. Vai demorar entre oito meses e um ano para retomar a produção normal”, antecipa José Couto. “As empresas têm de preparar-se para o pós-Covid-19. Muitas delas terão de reformular o contexto de custos para poderem reagir a este desafio.”

O líder da AFIA avisa também que “há fábricas da primeira linha que podem parar entre seis e oito semanas” e que, por conta disso, “muitas empresas de componentes não terão tesouraria para suportar estas paragens”.

Paragem polémica

José Couto destaca que as empresas de componentes querem salvaguardar os empregos “porque houve muitos custos de formação nos últimos anos que não podem ser desperdiçados”. Para proteger os empregos, “algumas empresas estão a tentar antecipar as férias deste ano e a esgotar os bancos de horas. Muitos trabalhadores propõem-se a encontrar soluções com as empresas”.

Os sindicatos defendem que “é preciso manter a produção, assegurando as normas de proteção, saúde e higiene no trabalho”. Mas os relatos que têm chegado à Fiequimetal, federação inter-sindical associada à CGTP e que inclui a indústria automóvel, não vão nesse sentido.

“Há um processo de pilhagem patronal aos direitos dos trabalhadores: há fábricas que estão a forçar férias compulsivas e não estão a ser distribuídas proteções às pessoas. Assistimos ainda à aplicação de um lay-off [suspensão temporária do contrato de trabalho] selvagem, sem preenchimento dos requisitos”, denuncia Rogério Silva, dirigente da Fiequimetal.

No parque industrial da Autoeuropa – a maior fábrica de automóveis de Portugal – “há alguns fornecedores em que os trabalhadores temporários rescindiram contratos por decisão da empresa e que vão ter de ir para o desemprego”, refere Daniel Bernardino. “Nesta fase, as empresas não deviam despedir pessoas”, entende o coordenador das comissões de trabalhadores daquele parque industrial.

Da parte da AFIA, apela-se à intervenção do Estado. “2020 vai ser um ano muito complicado e é o nosso desafio ultrapassá-lo. Isto não vai lá só com a imaginação dos empresários. Se não houver um plano específico do Governo e do Ministério da Economia para a indústria automóvel, vamos sucumbir. Se não formos competitivos, os clientes vão procurar soluções a outro lado.”

Fonte: Dinheiro Vivo

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