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Energia solar pode ser armazenada durante 18 anos

Cientistas suecos criaram um sistema energético que permite captar e armazenar energia solar por até 18 anos, libertando-a como calor, quando necessário. Agora conseguiram que esse sistema produzisse eletricidade, o que pode abrir caminho ao auto-carregamento de dispositivos eletrónicos.

O avanço científico que permite armazenar energia solar durante 18 anos é uma espécie de ida à Lua nesta área de investigação. Significa que a tecnologia eletrónica movida a energia solar está a um passo de se tornar parte do quotidiano, referiu um artigo sobre o tema publicado no site Euronews. Ou seja, pode vir a ser muito importante para a mobilidade elétrica, ao abrir caminho para a eletrónica de auto-carregamento que usa a energia solar armazenada, como refere um artigo publicado no site Euronews.

Para empresas como a elétrica portuguesa EDP, que está cada vez mais a apostar na energia solar, esta também é uma boa notícia. Afinal, como sublinhou a CEO da EDP Comercial no debate do Portugal Mobi Summit, esta fonte energética tem cada vez mais peso no espaço dos 27 Estados membros da União Europeia. “A nível europeu, duplicámos a capacidade de energia solar. Em Portugal temos mais de 70 mil famílias que aderiram à energia solar e quase três mil empresas”, afirmou Vera Pinto Pereira.

Mas para se perceber como se deu este avanço científico, tudo começou quando em 2017 cientistas de uma universidade sueca criaram um sistema energético que permite capturar e armazenar energia solar por 18 anos, libertando-a como calor, quando necessário. Agora, os mesmos investigadores conseguiram que o sistema produzisse eletricidade, ligando-o a um gerador termoelétrico.

Embora esteja ainda na fase inicial, o conceito desenvolvido na Universidade de Tecnologia de Chalmers, em Gotemburgo, na Suécia, poderá abrir caminho à eletrónica de auto-carregamento que utiliza a energia solar armazenada.

“Esta é uma forma radicalmente nova de gerar eletricidade a partir da energia solar. Significa que podemos utilizar a energia solar para produzir eletricidade independentemente do tempo, hora do dia, estação do ano ou localização geográfica”, explicou ao Euronews o líder de investigação, Kasper Moth-Poulsen, Professor no Departamento de Química e Engenharia Química de Chalmers.

“Estou muito entusiasmado com este trabalho”, acrescenta. “Esperamos que, com o desenvolvimento futuro, esta seja uma parte importante no futuro sistema energético”.

Como se armazena o sol

A energia solar é uma variável renovável porque, na sua maior parte, só funciona quando o sol brilha, mas a tecnologia para combater este desafio está já a ser desenvolvida a um ritmo acelerado.

Os painéis solares foram feitos a partir de culturas de resíduos que absorvem a luz UV mesmo em dias nublados, enquanto foram criados “painéis solares noturnos” que funcionam mesmo depois de o sol se pôr.

O armazenamento, a longo prazo, da energia que geram é outra questão. O sistema de energia solar criado em Chalmers, em 2017, é conhecido como ‘MOST’: Sistemas de Armazenamento de Energia Solar Térmica Molecular.

A tecnologia baseia-se numa molécula especialmente concebida de carbono, hidrogénio e azoto que muda de forma quando entra em contacto com a luz solar, adianta o artigo do Euronews. Essa molécula transforma-se num “isómero rico em energia” – composta pelos mesmos átomos, mas disposta em conjunto de uma forma diferente. O isómero pode então ser armazenado em forma líquida para utilização posterior quando necessário, como por exemplo à noite ou no inverno.

Um catalisador liberta a energia poupada como calor enquanto devolve a molécula à sua forma original, pronta para ser utilizada novamente.

Ao longo dos anos, os investigadores suecos aperfeiçoaram o sistema ao ponto de ser, agora, possível armazenar a energia durante 18 anos.

Chip ultrafino para transformar em eletricidade

Como descrito, num novo estudo publicado na Cell Reports Physical Science, em abril de 2022, este modelo deu agora um passo em frente.

Os investigadores suecos enviaram a sua molécula única, carregada de energia solar, aos colegas da Universidade Jiao Tong, de Xangai, na China. Ali, a energia foi libertada e convertida em eletricidade utilizando o gerador que tinham desenvolvido.

Essencialmente, a luz solar sueca foi enviada para o outro lado do mundo e convertida em eletricidade na China.

“O gerador é um chip ultrafino que poderia ser integrado na eletrónica, como auscultadores, relógios inteligentes e telefones”, explicou ao Euronews o investigador Zhihang Wang da Universidade de Tecnologia de Chalmers. “Até agora, apenas gerámos pequenas quantidades de eletricidade, mas os novos resultados mostram que o conceito funciona realmente. Parece muito promissor”.

O dispositivo poderia potencialmente substituir baterias e células solares, aperfeiçoando a forma como utilizamos a energia abundante do sol.

Eletricidade sem emissões

Uma grande vantagem deste sistema fechado e circular é que funciona sem causar emissões de dióxido de carbono, o que significa que tem um grande potencial para utilização com energias renováveis.

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas das Nações Unidas (IPCC) é perentório: precisamos de aumentar as energias renováveis e afastar-nos dos combustíveis fósseis muito, muito mais rapidamente para garantir um futuro climático seguro.

Embora avanços significativos em energia solar como este deem motivos de esperança, os cientistas avisam que levará tempo para que a tecnologia se integre nas nossas vidas. São necessários anos de muita investigação e desenvolvimento antes de podermos carregar os nossos dispositivos eletrónicos ou aquecer as nossas casas com a energia solar armazenada no sistema.

“Juntamente com os vários grupos de investigação incluídos no projeto, estamos agora a trabalhar para racionalizar o sistema”, adiantou o Professor Moth-Poulsen. “A quantidade de eletricidade ou calor que pode extrair tem de ser aumentada”. O cientista conclui que embora o sistema se baseie em materiais simples, tem de ser adaptado para que a produção em massa seja rentável.

É uma questão de tempo até podermos fazer tudo com a energia que o sol nos dá.

Fonte: Jornal de Notícias 

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