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Setor automóvel em Portugal ainda imune aos efeitos do coronavírus

Face à crise mundial provocada pelo surto epidémico do coronavírus (Covid-19), a indústria automóvel está ainda a operar com aparente normalidade no mercado nacional, com algumas das principais marcas a adotarem uma postura de expectativa, mas sem que existam ainda constrangimentos nas suas operações, logísticas ou comerciais. Ainda assim, o maior risco em termos comerciais prende-se com um potencial efeito de redução nas encomendas das empresas de rent-a-car, em virtude da quebra esperada no turismo ao longo das próximas semanas.

Numa fase em que as restrições à circulação de pessoas começam a ser bastante fortes dentro da Europa, com cada país a tecer planos de contenção à propagação do coronavírus com base principalmente em medidas de quarentena, o impacto no mercado automóvel ainda não é evidente, como admitem alguns dos importadores com operação em Portugal.

Com sede em Itália, país onde o surto de coronavírus tem sido particularmente devastador e onde foi recentemente estendida a todo o país a política de quarentena, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), pela voz de Sara Bravo, relações públicas da companhia italiana, adianta que “para já não temos avaliado qualquer tipo de impacto, até porque todas as medidas que estão a ser tomadas, mais restritivas, são muito recentes. Sabemos que do ponto de vista de produção ainda não houve impactos”.

A responsável da FCA adiantou ainda que, até ao momento, ainda não foram avaliados potenciais impactos em termos de transportes e de distribuição, o que “está a ser feito neste momento”. Assegura, ao mesmo tempo que “a situação está ainda regular. A produção está a funcionar normalmente, naturalmente com todos os mecanismos de prevenção que a empresa teve de tomar nas fábricas, mas ainda não houve qualquer paragem”.

O único risco premente, admite, reside no setor do rent-a-car: “Pode haver algum impacto. Estamos a ter alguma informação de rent-a-cars no sentido de pedir adiamentos de entregas de viaturas, que estavam previstas para cobrir os próximos meses, nomeadamente a Páscoa. Concretamente, ainda não fomos informados de cancelamentos. Sabemos sim que estão a pedir adiamentos. Não há nada mais concreto”.

Ricardo Oliveira, diretor de comunicação do Grupo Renault em Portugal, defende que ainda é cedo para uma leitura mais pormenorizada dos efeitos do vírus no setor. “Começa a ser percetível que vamos ter um grande impacto económico – já manifesto na China e em Itália – e isso terá efeitos no nosso negócio”, diz. O responsável reconhece que a crise no setor turístico terá efeitos prejudiciais na mercado rent-a-car, onde a marca tem sólida posição, mas, para já, “ainda não é possível avaliar a extensão desse prejuízo”, esclarece.

Efeitos nulos no negócio automóvel

Pelo mesmo diapasão afina Ricardo Tomaz, diretor de comunicação da SIVA, importadora de marcas como a Volkswagen, Audi ou Skoda, para quem os impactos no negócio de vendas é nulo neste momento, partilhando porém, da mesma ideia quanto ao potencial impacto no setor do rent-a-car.

“Neste momento, não notamos nada no negócio. A única preocupação que temos é que se os rumores sobre a queda do turismo se confirmarem pode haver um impacto nas entregas ao rent-a-car. Se a Páscoa ficar estragada por alguma razão, em termos turísticos, os rent-a-car não vão querer tantos carros. Esse é o único risco que podemos antever, mas por enquanto não há impacto no negócio”, assegura Ricardo Tomaz, clarificando ainda que não existe qualquer constrangimento logístico nas marcas do grupo.

“A nossa logística mantém-se 100% operacional, sem qualquer tipo de preocupação. Estamos a tomar as medidas, temos um comité de crise, estamos a tomar as medidas que são necessárias de acordo com as orientações do Organização Mundial de Saúde. Portanto a operação está completamente normal”.

Vítor Marques, relações públicas da Toyota e Lexus, por sua vez, garante que, “em termos comerciais, o grupo não está a sentir os efeitos do covid-19”, uma vez que não tem uma “grande dependência das rent-a-car em nenhuma das duas marcas”, acrescenta o responsável. Segundo refere, o grupo está a avaliar a “situação, dia a dia”, procurando reduzir, o mais possível, as viagens dentro da empresa”.

Da parte da Porsche Ibérica, importadora da marca Premium de veículos desportivos, Nuno Costa, relações públicas e marketing manager, minimiza os efeitos do coronavírus na atividade da marca. “Neste momento, temos uma operação otimizada e a funcionar de forma totalmente regular. Não temos nenhum tipo de constrangimento, além das medidas preventivas que tomámos, de forma a evitar o contágio dentro da empresa. Excecionais e temporárias”, afirma ainda. “Mantivemos o road-show com o Taycan. Os concessionários estão inteirados sobre as medias preventivas e os test-drives não foram cancelados”, conta.

Por outro lado, como forma de evitar o contágio, a Conferência Anual da Porsche, que teria lugar a 19 de março, em Estugarda, na Alemanha, foi cancelada, optando os responsáveis pela sua transmissão em livestreaming.

Ouvida ainda a Kia, João Seabra, diretor da marca em Portugal, também afasta cenários negros. “Ainda não sentimos efeito direto nas nossas vendas ao cliente final”, esclarece. Mas admite que, “se a situação se agravar e forem tomadas medidas de contingência drásticas, é evidente que haverá unidades que vão ficar em stock mais tempo do que o previsto, mas as marcas também vão reajustar os seus pedidos às fábricas e a prazo tudo se regulariza”, explica. “O problema desta pandemia”, sublinha, “é que pode parar a economia de todo o Mundo, com consequências imprevisíveis, mas sempre graves”, diz. O plano, para já, “é fazer uma monitorização diária da situação e tomar medidas que reduzam a extensão dos possíveis danos”, refere.

ACAP alerta para potenciais riscos

Por outro lado, Hélder Pedro, secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), entende que existe um potencial de riscos na setor automóvel nacional, estando o seu impacto dependente da duração do surto de coronavírus na Europa.

“Dependerá do tempo que dura, mas infelizmente, pelo que estamos a ver em Itália, vai levar algum tempo. Mas pode impactar de duas formas. Por um lado, pela redução do índice de confiança dos consumidores e das empresas, certamente, já que havendo aqui um reflexo na atividade turística e na restauração, isso terá um efeito imediato e, por arrastamento, a redução dos indicadores de confiança de ambos na renovação de frotas”.

O responsável da ACAP recorda que “já em janeiro a nossa associação europeia tinha dito que a queda que se verificou na Europa se devia também ao coronavírus, mas agora, intensificando-se em todos os países, isso irá certamente refletir-se no mercado automóvel deste ano”.

Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP.
Créditos: Orlando Almeida / Global Imagens

“Por outro lado, dependendo da evolução, poderão haver dificuldades no abastecimento. Sabemos que na china quando os portos ficaram paralisados houve um atraso nos barcos e se isso vier a acontecer noutros países, nos transportes ou nas fábricas, também poderão existir atrasos na entrega”.

Tal como os importadores de automóveis, também a ACAP está atenta à questão da redução do turismo, com Hélder Pedro a admitir que “os rent-a-cars também poderão sofrer com esta redução da procura, porque assistimos a reduções nas reservas numa percentagem maioritária da hotelaria e portanto haverá menos necessidade de rent-a-car, o que também afeta bastante o nosso mercado”.

Pedro Junceiro e Jorge Flores

Fonte: Motor 24

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