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Aeronáutica. “Não precisamos de uma nova Autoeuropa”

Portugal está prestes a fechar negócio com grande empresa que promete investimento de montante equivalente ao que a Embraer já colocou na economia nacional. Setor diz que o que faz falta ao país é “uma cadeia de valor”.

A Embraer foi o game changer e hoje Portugal está já a dar mais cartas no mundo da aeronáutica, defesa e indústria espacial. Há cada vez mais empresas portuguesas a fornecer as gigantes da indústria e, com os olhos dos grandes investidores postos no nosso país – está por dias a assinatura de um grande investimento de 400 milhões de euros -, é importante dar o salto, explica José Neves, presidente do cluster AED.

“É um mercado de poucos jogadores, em que temos a Airbus e temos a Boeing. A Embraer vai consolidar-se com a Boeing e a Airbus, em princípio, com a Bombardier. Não acho que precisemos de uma nova Autoeuropa. Criar uma OEM [original equipment manufacturer] é importante, mas o mais importante é criar uma cadeia de valor”, adiantou ao DN/Dinheiro Vivo, no dia em que se iniciaram os AED Days, semana de debates e de cruzamento entre investidores e empresas do setor.

Esta indústria, altamente qualificada e geradora de emprego, conta com cerca de 70 empresas de cariz essencialmente exportador. “Não tendo uma OEM em Portugal, a maioria dos clientes está lá fora. Aliás, 87% a 90% do volume de negócios é para exportação.” Os menos de 10% que sobram dividem-se essencialmente entre a TAP e a OGMA, que representam “a cadeia de fornecimento interna”.

Só a Airbus contava, em maio, com 31 fornecedoras nacionais: nove na área da aviação comercial, 20 na defesa e espaço e igual número no segmento de helicópteros.

“A vinda da Embraer foi um game changer porque trouxe um efeito de arrastamento, de capacidade para trabalhar, e o IEFP deu uma resposta fantástica com formações de 12 meses em aeronáutica. Isto não se faz em mais nenhum lugar”, destaca José Neves, evidenciando o forte investimento feito em Portugal e onde o governo tem tido um papel importante.

A AICEP, agência de investimento estatal, também reconhece o pontapé de saída dado pela fabricante brasileira. “A implantação da Embraer em Portugal, em 2008, foi decisiva no posicionamento de Portugal como opção de localização de projetos da indústria aeronáutica. Desde então temos vindo a atrair mais investimento de diferentes geografias. Adicionalmente, o objetivo primordial da AICEP tem sido assegurar a presença num máximo de cadeias de fornecimento dos diferentes atores do setor, nomeadamente das empresas fabricantes de aviões”, adiantou a agência para o investimento ao DN/Dinheiro Vivo.

“A AICEP está a acompanhar intenções de investimento nesta área, em diferentes estados de decisão, e espera poder vir a registar, muito em breve, a concretização de alguns destes projetos em pipeline“. O projeto mais próximo está por dias, noticiou o Expresso, e deverá envolver um investimento da ordem dos 400 milhões de euros, a norte, permitindo contratar 400 pessoas.

No primeiro dia dos AED Days, o negócio, que ainda permanece no segredo dos deuses, dominou as conversas. “O namoro no setor aeronáutico é de longo termo”, reconhece José Neves, considerando-o um investimento há muito desejado por Portugal, que terá destronado concorrentes de Leste.

“Temos concorrido muito com os países de Leste neste setor”, diz, assumindo que “a estabilidade política e a formação qualificada” dos portugueses são trunfos reconhecidos nesta indústria. A escassez de recursos humanos acaba por ser o maior entrave ao crescimento. O trabalho de atração tem, por isso, de começar cada vez mais cedo. “O seu filho chega a casa e diz que em vez de ser engenheiro quer antes um curso técnico profissional. Toda a gente vai dizer: ‘Para isso mais vale seres engenheiro.’ E é preciso mostrar que ser técnico profissional não é desprestígio nenhum”, argumenta José Neves.

“Falando com o mercado, penso que há esse estigma e é esse estigma que temos de vencer. Dizer aos alunos que há oferta profissional nesta área, uma taxa de empregabilidade de 100%, e a contratar, e vencimentos muito bons.”

Ontem, num painel formado por várias empresas da indústria, Portugal só recebeu elogios: “É um país perfeitamente centrado entre a Europa, África e a América”, disse Ken Karika, diretor de negócio da Bell Flight para a Europa. “Vemos o futuro a desenvolver-se com oportunidades”, destacou Antonio de Palmas, da Boeing. “As empresas portuguesas serão importantes fornecedoras para a nossa cadeia de valor”, reconheceu Cesar Lopez, da Airbus.

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