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Porsche diz que Tesla não é rival. E com razão!

A Porsche defende que não é concorrente da Tesla e somos obrigados a dar-lhe razão. Não pelos motivos que agradariam ao construtor alemão, para justificar o facto de estar preocupada com a sua rival.

Ao contrário da Tesla, que nunca se referiu directamente à Porsche, a marca alemã dá provas de uma ‘obsessão’ recorrente em relação ao fabricante americano, alegando que não o considera seu rival. A afirmação não é nova, vinda de responsáveis de topo da Porsche, mas segundo a Automotive News, o técnico que lidera a Investigação e Desenvolvimento (R&D) da Porsche, Michael Steiner, sentiu necessidade de voltar a declarar que a Porsche não é concorrente da Tesla. O que até era perfeitamente aceitável até há uns anos, quando o construtor alemão produzia maioritariamente desportivos, antes de ter optado por se tornar mais rentável e investir nos SUV, veículos mais altos, mais pesados e menos desportivos (como o Cayenne e Taycan), que hoje constituem a maioria das suas vendas.

Quando a Renault apresenta o novo Clio, é normal que todo o mundo o compare com o Peugeot 208, o Opel Corsa, o VW Polo e o Ford Fiesta, modelos das mesmas dimensões e especificações aproximadas. O mesmo acontece quando a BMW surge com um novo Série 5, que rapidamente despoleta um interesse súbito na comparação com as características dos Audi A6 e Mercedes Classe E, também eles das mesmas dimensões e características. Sucede que os veículos eléctricos são tão poucos, pelo menos por agora, que mesmo quando há diferenças substanciais entre ele são sempre considerados rivais. Um bom exemplo é dado pela Renault e pela Nissan, que sempre tiveram no Zoe um rival do Leaf, apesar de este último ter mais quase 50 cm de comprimento, o que lhe assegura um maior espaço interior. Porém, como até há uns meses atrás não havia mais concorrentes, não havia outra solução senão colocar frente a frente estes dois modelos da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.

O mesmo acontece com a Tesla, que começou a fabricar o Model S em 2012, que ainda hoje mantém em fabricação. Depois chegou o Porsche Taycan, em final de 2019, por enquanto só em alguns mercados e em quantidades reduzidas. Com dimensões similares, baterias com capacidades aproximadas (90 kWh para o carro alemão e 100 kWh para o americano) e motores sensivelmente com a mesma potência, era óbvio que o mercado os iria encarar como concorrentes directos. Para reforçar a comparação, soube-se pelo então CEO da Audi, que este construtor e a Porsche se deram ao trabalho de adquirir dois Tesla nos EUA e fazê-los voar para a Alemanha, onde foram desmontados para ser estudados. Ora, se a Porsche decidiu comprar e desmontar um Tesla e não um Zoe, Leaf ou BMW i3, dificilmente será aceitável o argumento “não o consideramos concorrente”.

Contudo, a Porsche tem um problema para resolver. Durante anos, ficou a meio caminho entre as marcas vincadamente desportivas, como a Ferrari, Lamborghini, McLaren ou Aston Martin, e os construtores generalistas ou premium, mas isso nunca a impediu de esgrimir a sua maior capacidade de aceleração, velocidade máxima ou comportamento mais eficaz em pista. Sucede que, à falta de outros concorrentes, o Taycan é necessariamente comparado com o Model S, embora este seja ligeiramente maior e mais volumoso (no habitáculo e na mala).

Apesar dessa aparente desvantagem, o Tesla sempre se revelou mais rápido (2,6 contra 2,8 segundos de 0-100 km/h, de acordo com os dados anunciados pelos fabricantes e homologados pelo legislador europeu) e ligeiramente menos veloz, com 260 km/h para o eléctrico alemão e 261 para o americano. O mais difícil de engolir terá sido a derrota na rapidez em pista, com a Porsche a visitar o traçado de Nürburgring para estabelecer uma volta mais rápida com o Taycan (ainda antes de este estar à venda ou homologado), rapidamente anunciada como o novo recorde no circuito germânico para veículos eléctricos, o que levou a Tesla a desenvolver uma versão mais desportiva do Model S, que denominou Plaid (que também ainda não está à venda ou homologada) e que deu uma “sova” ao Taycan, revelando-se cerca de 20 segundos mais rápida por volta. O que, como seria de esperar, colocou alguma pressão no fabricante germânico, que se viu batido numa área em que se esperava que fosse mais forte.

Afirma o alemão Michael Steiner, chefe do R&D da Porsche, que a Tesla não é um concorrente por ter uma visão de fabricante de volume, enquanto a Porsche visa uma produção mais reduzida. Um argumento interessante que, contudo, nunca impediu a Porsche de apontar às características de alguns Ferrari, como rivais, apesar de produzir cerca de 280.000 veículos por ano, contra menos de 10.000 da Ferrari. Quando a Tesla, em 2019, fabricou cerca de 367.000 unidades.

Além de aparentemente ter perdido a vantagem que tradicionalmente sempre esgrimiu, em rapidez, velocidade e eficiência em pista, a Porsche tem toda a razão em não ver o Model S como concorrente do Taycan. Deduzimos que tal se deve ao facto de o Taycan Turbo S oferecer uma autonomia de 412 km na Europa, contra 593 km do Model S Performance e de não possuir um sistema à altura do Autopilot da Tesla, entre muitas outras vantagens do eléctrico americano. Curiosamente, quem chamou a atenção das vantagens no Nürburgring do Model S Plaid, face ao Taycan, foi uma reputada publicação germânica.

Fonte: Observador

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